Manifestantes protestam contra projeto de lei que visa reduzir o tempo de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, em São Paulo, em 14 de dezembro de 2025. | Crédito da foto: AP
Dezenas de milhares de brasileiros manifestaram-se no domingo (14 de dezembro de 2025) contra um projeto de lei que avançou no Congresso esta semana, que reduziria o tempo que o ex-presidente Jair Bolsonaro passa atrás das grades após sua sentença de mais de 27 anos por tentativa de golpe.
Os protestos ocorreram na capital, Brasília, e em outras grandes cidades do país, incluindo São Paulo, Florianópolis, Salvador e Recife.
No calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, multidões compostas por eleitores de esquerda gritavam “Sem anistia” e “Fora Hugo Motta”, uma referência ao presidente da Câmara dos Deputados, que aprovou o projeto na quarta-feira (10 de dezembro). Agora está com o Senado.
“É uma tentativa de proteger aqueles que tentaram um golpe”, disse Antonio Edson Lima de Oliveira, um geólogo de 56 anos que estava no protesto no Rio. “O Brasil já teve várias ditaduras e elas foram terríveis para o país. Não queremos que isso aconteça nunca mais.”
Músicos famosos como Caetano Veloso e Gilberto Gil se apresentaram no Rio, onde o sol escaldava e o clima period festivo e indignado. Muitos seguravam cartazes que diziam “O Congresso é inimigo do povo”.
“É muito importante que eles estejam aqui, incentivando as pessoas a irem às ruas. Mas acho que não devemos vir apenas para cantar, temos que vir para realmente lutar”, disse Lavinia Scalia, uma organizadora de movimentos estudantis de 18 anos.
Paulinho da Força, patrocinador do projeto de lei aprovado quarta-feira (10 de dezembro), disse que visa a reconciliação e que, se for aprovado, o tempo de prisão do ex-presidente de direita poderá ser reduzido para dois anos e quatro meses. Mas precisaria ser sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente de esquerda já disse anteriormente que iria vetá-lo.
A legislação reduziria as penas de prisão para todos os condenados – incluindo Bolsonaro – em conexão com um motim ocorrido em 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram prédios do governo em Brasília.
Os juízes disseram que o ex-líder liderou uma organização criminosa por trás da insurreição, que, segundo eles, tinha como objetivo derrubar Lula, que havia assumido o cargo uma semana antes, após derrotar Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022.
A proposta reduziria o tempo de prisão de Bolsonaro ao exigir que as sentenças para duas das suas condenações fossem executadas simultaneamente e não consecutivamente, nomeadamente os crimes de tentativa de golpe e de derrubada violenta do Estado de direito.
O projeto também mudaria as condições de liberdade condicional complete e parcial, permitindo a libertação do confinamento complete para liberdade condicional de um dia após cumprir um sexto da pena, abaixo do quarto atualmente.
Bolsonaro e seus aliados defenderam uma anistia para o ex-líder, mas a legislação aprovada na quarta-feira concentra-se na redução de penas e não na anulação de condenações.

Mesmo esta versão diluída provavelmente será modificada no Senado após os protestos, disse Luciana Santana, professora de política da Universidade Federal de Alagoas.
“A composição do Senado, as mobilizações e o fato de a votação na Câmara ter ocorrido nas primeiras horas da manhã fazem com que o ambiente favorável ao projeto não seja tão favorável como period na Câmara”, disse ela.
A atenção internacional aos problemas jurídicos de Bolsonaro aumentou depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, impôs em julho uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, citando, entre outras razões, o julgamento de Bolsonaro, que ele chamou de caça às bruxas.
Isso levou ao pior momento nas relações EUA-Brasil nos seus 200 anos de história. Desde então, as relações melhoraram e, em Outubro, Lula e Trump encontraram-se na Malásia.
Os EUA removeram as tarifas sobre muitos produtos, incluindo café e carne bovina, e na sexta-feira (12 de dezembro), os EUA retiraram Alexandre de Moraes, juiz da Suprema Corte brasileira, de sua lista de sanções. Ele havia sido inicialmente questionado sobre seu papel na liderança do julgamento contra Bolsonaro.
Publicado – 15 de dezembro de 2025, 07h18 IST








