Castanhas do Brasil.
Bagas de açaí.
E o primo amazônico mais leve e picante do cacau – o cupuaçu.
São goodies feitos com o que Guilherme Leal, um dos empresários mais conhecidos do país e fundador da Dengo Sweets, chama de “o sabor do Brasil”.
“Chocolate de alta qualidade, chocolate desejável – espero que gostem – mas com uma identidade própria”, disse Leal numa entrevista em Belém, à margem da conferência internacional sobre o clima conhecida como COP30.
Os novos fabricantes de chocolate vão desde pequenas operações locais na Amazônia até grandes empresas como a Dengo, com sua rede de boutiques espalhadas pelo Brasil.
César De Mendes, por exemplo, começou com uma barra de chocolate feita com cacau nativo colhido pelo grupo indígena Yanomami. Ele o chamou de “cacau plantado por Deus”.
Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena, começou a vender suas barras de chocolate caseiras nas feiras da cidade e percebeu que poderia ganhar mais do que vendendo apenas seus grãos de cacau.
Fabio Sicilia, dono de restaurante de Belém, voltou-se para a fabricação de chocolate ao perceber que poucos brasileiros sabiam que o grão do cacau vem da Amazônia. “É a própria terra do cacau!” ele disse.
Eles estão na vanguarda daquilo que o Brasil espera promover ao mundo: a ideia de que é possível ganhar dinheiro com produtos que podem salvar a Amazônia, e não devorá-la. O cacau é um dos mais lucrativos deles. O açaí já é um crossover international. Cupuaçu também poderia ser. Um estudo recente do World Assets Institute estimou que produtos florestais como o cacau poderiam render mais 8,2 mil milhões de dólares (14,1 mil milhões de dólares) por ano para a economia da Amazónia brasileira até 2050.
Os empresários do chocolate artesanal dizem que seu objetivo não é apenas fabricar um produto de alta qualidade, mas também garantir que os pequenos agricultores da Amazônia possam ganhar a vida com alimentos de alto valor que preservam a floresta. Afinal, o cacau é filho da Amazônia. Precisa da floresta. Ele precisa crescer sob a proteção de árvores mais altas. Suas folhas caem ao longo do ano, cobrindo o solo de nutrientes.
A COP30 certamente ajudou nas vendas de chocolate artesanal. A marca Filha do Combu da Costa dobrou sua produção. A loja da Sicilia em Belém estava esgotada com uma oferta in style de chocolate amargo com açaí e crocante de tapioca. De Mendes disse, no meio da conferência, que não tinha mais uma barra para vender.
No entanto, a vida não é tão boa para essas marcas artesanais. Os preços dos grãos de cacau subiram acentuadamente no mercado international. Isso está comprimindo as margens das pequenas marcas. Também está a criar a tentação de criar grandes plantações de cacau, com sementes de alto rendimento e muitos fertilizantes químicos. Isso, por sua vez, aumenta o risco de que as grandes operações de monocultura de cacau possam consumir mais florestas e pastagens nativas do Brasil.

Numa recente manhã de terça-feira, o portão da garagem de um prédio indefinido no centro de Belém se abriu e revelou Sicília, sorridente, com um jaleco branco. Por baixo do casaco ele usava sua camisa de botão exclusiva, estampada com ilustrações de grãos de cacau. Ele tem 10 dessas camisas em 10 cores diferentes, disse ele. Ele os usa todos os dias da semana.
A camisa daquele dia period verde escovada.
Ele alertou os visitantes de sua unidade de produção de chocolate para não usarem perfumes ou loções perfumadas. O cacau absorve o cheiro facilmente e, mesmo que ninguém mais saiba, a Sicília consegue. Ele também é um sommelier treinado. Uma vez ele sentiu o cheiro de galinhas em um lote de feijão que chegou. Quando ele foi ao native, com certeza havia galinhas na fazenda.
A Sicília tem obtido grãos de cacau dos mesmos agricultores da Amazônia durante a maior parte dos últimos 20 anos. Mandam-lhe fotos dos primeiros frutos das árvores, das colheitas, das festas de aniversário dos filhos.
Durante os primeiros 17 dos seus 20 anos de actividade, a sua marca de chocolate perdeu dinheiro. Para a Sicília, não havia como desistir. O chocolate period sua paixão, disse ele – tanto que batizou a marca de Gaudens, que vem de uma palavra latina que significa “deleite” ou “alegria”. Seu logotipo é um G maiúsculo redondo e amplo, com um pequeno ponto dentro.
“Ponto G”, disse Sicilia alegremente.
Atrás dele, uma máquina misturava suavemente o açaí e o cacau, o marrom dos grãos absorvendo o roxo profundo da fruta. O aroma de cacau pairava no ar. As temperaturas foram cuidadosamente controladas. O medo quente e fumegante da floresta foi mantido sob controle.

Ele ofereceu um punhado de nibs de cacau e instruiu seus convidados a mastigar de boca fechada. “Preste atenção ao sabor”, disse ele.
“O chocolate nunca deve ser amargo”, continuou Sicilia. Se for assim, disse ele, a culpa é daqueles que fermentaram os grãos e depois os torraram. Sicilia assa feijão no quintal atrás de seu restaurante. “Um dos meus segredos”, ele sussurrou.
Na segunda sala da pequena e estreita fábrica de Gaudens havia uma fileira de caixas plásticas cheias de nibs de cacau, cada uma etiquetada com o nome do agricultor e an information da colheita. Os grãos do fazendeiro Ivan, explicou Sicilia, são bons para o chocolate ao leite, enquanto os grãos do fazendeiro Bico são melhores para as barras de chocolate veganas com 71% de cacau.
Os chocolateiros artesanais do Brasil representam uma pequena parcela do mercado. A maioria dos produtores brasileiros vende para tradings que misturam os grãos principalmente para marcas de chocolate do mercado de massa. Embora alguns produtores cultivem enormes plantações de cacau, a cultura tem sido cultivada há muito tempo com outras árvores amazónicas, com frutos e nozes dos quais as comunidades florestais dependem há séculos para o seu sustento e deleite.
“Há uma concepção errada sobre florestas virgens”, disse José Otavio Passos, que lidera a conservação da Amazônia para a Nature Conservancy. “Os povos indígenas administram isso há milhares de anos.”

Leal, fundador da Dengo, espera que marcas como a sua possam ajudar os brasileiros a valorizar o que suas florestas oferecem. Estes não são goodies belgas ou suíços. São goodies brasileiros.
“Existe uma visão cultural de que o chocolate suíço é fantástico, e a maioria deles é realmente muito bom”, disse ele. “Se você oferecer bons produtos mostrando que você é brasileiro, que é socialmente responsável, que é authentic, que é agradável, bom, saboroso, podemos começar a mudar isso.”
O nome da sua empresa, Dengo, abraça esse objetivo. Os brasileiros usam a palavra para denotar carinho ou cuidado.
Uma boutique Dengo ocupa uma loja no bairro nobre de Ipanema, no Rio de Janeiro. Barras e latas são adornadas com ilustrações caprichosas de frutas silvestres e pássaros. Um barista oferece bebidas de café expresso. E como costumam fazer nas tardes de sexta-feira, Thales Laray e Danielle Couto sentam-se numa mesa perto da janela. Nesta visita, eles compartilham um pedaço de chocolate amargo 62%, salpicado com castanha de caju e cupuaçu.
Laray disse que aprecia o fato de o cacau vir de pequenos produtores e ser todo proveniente das próprias florestas do Brasil.
“Há uma história por trás disso”, disse ele.
“Há muito tempo que sabemos que o bom chocolate vem da Suíça ou da Bélgica”, acrescentou Couto. “Agora temos chocolate bom no Brasil.”
Este artigo foi publicado originalmente no The New York Occasions.O jornal New York Occasions.
Escrito por: Somini Sengupta
Fotografias: Alessandro Falco
©2025 THE NEW YORK TIMES








