Manifestações espontâneas eclodiram no domingo no maior mercado de telefonia móvel da cidade, antes de ganharem força, embora permanecessem limitadas em número e confinadas ao centro de Teerã. A grande maioria das lojas em outros lugares continuou a funcionar normalmente.
O presidente Masoud Pezeshkian – que tem menos autoridade no sistema de governo do Irão do que o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei – reuniu-se com líderes trabalhistas na terça-feira e fez propostas para enfrentar a crise económica, segundo a agência de notícias Mehr.
“Pedi ao ministro do Inside que ouça as exigências legítimas dos manifestantes, dialogando com os seus representantes para que o governo possa fazer tudo o que estiver ao seu alcance para resolver os problemas e agir de forma responsável”, disse ele numa publicação nas redes sociais.
De acordo com a televisão estatal, o presidente do parlamento, Mohammad Bagher Ghalibaf, também apelou a “medidas necessárias focadas no aumento do poder de compra das pessoas”, mas alertou contra agentes estrangeiros e opositores do governo que tentam explorar os protestos.
Na segunda-feira, o governo anunciou a substituição do governador do banco central pelo ex-ministro da Economia e Finanças, Abdolnasser Hemmati.
Economia maltratada
As flutuações de preços estão paralisando as vendas de alguns bens importados, com vendedores e compradores preferindo adiar as transações até que as perspectivas se tornem mais claras, relataram correspondentes da AFP.
De acordo com o jornal Etemad, um comerciante queixou-se de que as autoridades não ofereceram qualquer apoio aos lojistas que lutavam contra o aumento dos custos de importação.
“Eles nem sequer acompanharam como o preço do dólar afetou as nossas vidas”, queixou-se, falando sob condição de anonimato.
“Tivemos que decidir mostrar o nosso protesto. Com este preço em dólares, não podemos nem vender uma capa de telefone, e os funcionários não se importam que as nossas vidas sejam governadas pela venda de telemóveis e acessórios.”
Em dezembro, a inflação situou-se em 52% em termos homólogos, segundo estatísticas oficiais. Mas este número ainda fica muito aquém de muitos aumentos de preços, especialmente para bens de primeira necessidade.

A economia do país, já abalada por décadas de sanções ocidentais, ficou ainda mais tensa depois de as Nações Unidas terem restabelecido, no last de Setembro, sanções internacionais ligadas ao programa nuclear do país, que foram levantadas há 10 anos.
As potências ocidentais e Israel acusam o Irão de tentar adquirir armas nucleares, uma acusação que Teerão nega.
Os actuais protestos contra o elevado custo de vida não atingiram o nível das manifestações nacionais que abalaram o Irão em 2022.
Esses protestos foram desencadeados pela morte sob custódia de Mahsa Amini, de 22 anos, que foi presa por supostamente violar o rígido código de vestimenta feminino do país.
A morte de Amini desencadeou meses de agitação, com centenas de pessoas, incluindo dezenas de agentes de segurança, mortas e milhares de outras presas.
Em 2019, eclodiram protestos no Irão após o anúncio de um forte aumento nos preços da gasolina. A agitação se espalhou por cerca de 100 cidades, incluindo Teerã, e deixou dezenas de mortos.
– Agência França-Presse




