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Operação contra gangue no Rio deixa pelo menos 64 mortos, incluindo policiais

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Cerca de 2.500 policiais e soldados brasileiros lançaram uma operação massiva contra uma gangue de traficantes de drogas no Rio de Janeiro na terça-feira, prendendo 81 suspeitos e provocando tiroteios que deixaram pelo menos 60 suspeitos e quatro policiais mortos, disseram autoridades.

A operação incluiu policiais em helicópteros e veículos blindados e teve como alvo o notório Comando Vermelho nas extensas favelas de baixa renda do Complexo do Alemão e da Penha, disse a polícia.

A operação policial foi uma das mais violentas da história recente do Brasil, com organizações de direitos humanos pedindo investigações sobre as mortes.

O governador do estado do Rio, Claudio Castro, disse em um vídeo postado em X que 60 suspeitos de crimes foram “neutralizados” durante a operação massiva que ele chamou de a maior operação desse tipo na história da cidade. Cerca de 81 suspeitos foram presos, enquanto 93 rifles e mais de meia tonelada de drogas foram apreendidos, disse o governo estadual, acrescentando que os mortos “resistiram à ação policial”.

A Polícia Civil do Rio disse no X que quatro policiais morreram na operação de terça-feira. “Os ataques covardes de criminosos contra nossos agentes não ficarão impunes”, afirmou.

Policiais escoltam um suspeito preso durante a Operação Contenção para fora da favela da Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de outubro de 2025.

MAURO PIMENTEL/AFP through Getty Pictures


Os moradores lutaram para se proteger e as lojas fecharam as portas em meio a alegações da polícia de que as gangues estavam usando drones para revidar, informou a Agence France-Presse.

Castro postou um vídeo no X do que ele descreveu como um drone controlado por uma gangue lançando um projétil do céu nublado.

“É assim que a polícia do Rio é tratada pelos criminosos: com bombas lançadas por drones. Essa é a dimensão do desafio que enfrentamos. Não se trata de crime comum, mas de narcoterrorismo”, afirmou.

Autoridades estaduais disseram que pelo menos 50 dos mortos foram “indicados pela polícia como suspeitos de serem criminosos”. Notícia da BBC relatada. Dezenas de pessoas ficaram feridas, incluindo civis apanhados no fogo cruzado, segundo a BBC.

O órgão de direitos humanos das Nações Unidas disse estar “horrorizado” com a operação policial mortal, apelou a investigações eficazes e lembrou às autoridades as suas obrigações ao abrigo do direito internacional dos direitos humanos.

César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil, classificou os acontecimentos de terça-feira como “uma enorme tragédia” e um “desastre”.

“O Ministério Público deve abrir as suas próprias investigações e esclarecer as circunstâncias de cada morte”, disse Muñoz num comunicado.

Imagens nas redes sociais mostraram fogo e fumaça subindo das duas favelas enquanto soavam tiros. A Secretaria de Educação da cidade disse que 46 escolas nos dois bairros foram fechadas, e a vizinha Universidade Federal do Rio de Janeiro cancelou as aulas noturnas e disse às pessoas no campus que procurassem abrigo.

Supostos membros de gangues bloquearam estradas no norte e sudeste do Rio em resposta à operação, informou a mídia native. Pelo menos 70 ônibus foram requisitados para serem usados ​​nos bloqueios, causando danos significativos, disse a organização rodoviária da cidade, Rio Onibus.

A operação de terça-feira ocorreu após um ano de investigação sobre o grupo criminoso, disse a polícia.

O governador Castro, do Partido Liberal, de oposição conservadora, disse que o governo federal deveria fornecer mais apoio ao combate ao crime – um golpe contra a administração do presidente esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva.

Gleisi Hoffmann, representante do governo Lula com o parlamento, concordou que period necessária uma ação coordenada, mas apontou a recente repressão à lavagem de dinheiro como um exemplo da ação do governo federal contra o crime organizado.

O vice-presidente Geraldo Alckmin e vários ministros se reuniram em resposta à operação na tarde desta terça-feira. O chefe da Casa Civil, Rui Costa, solicitou uma reunião de emergência no Rio na quarta-feira, com a presença dele e do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.

Emergindo das prisões do Rio, a gangue criminosa Comando Vermelho expandiu seu controle nas favelas nos últimos anos.

“Roleta Russa”

O Rio tem sido palco de operações policiais letais há décadas. Em março de 2005, cerca de 29 pessoas foram mortas na Baixada Fluminense, no Rio, enquanto em maio de 2021, 28 foram mortas na favela do Jacarezinho.

Embora a operação policial de terça-feira tenha sido semelhante às anteriores, sua escala foi sem precedentes, disse Luis Flavio Sapori, sociólogo e especialista em segurança pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

“O que há de diferente na operação de hoje é a magnitude das vítimas. Estes são números de guerra”, disse ele.

Ele argumentou que estes tipos de operações são ineficientes porque não tendem a capturar os mentores, mas sim a atingir subordinados que podem mais tarde ser substituídos.

“Não basta entrar, trocar tiros e sair. Falta estratégia na política de segurança pública do Rio de Janeiro”, disse Sapori. “Alguns membros de escalão inferior destas facções são mortos, mas esses indivíduos são rapidamente substituídos por outros.”

O Instituto Marielle Franco, organização sem fins lucrativos fundada pela família da vereadora assassinada para dar continuidade ao seu legado de luta pelos direitos das pessoas que vivem em favelas, também criticou a operação.

“Esta não é uma política de segurança pública. É uma política de extermínio, que faz da vida quotidiana dos negros e dos pobres uma roleta russa”, afirmou num comunicado.

“Todo mundo está apavorado”

A AFP viu policiais no bairro Vila Cruzeiro, distrito da Penha, vigiando cerca de 20 jovens amontoados e sentados na calçada, de cabeça baixa, descalços e sem camisa.

“Esta é a primeira vez que vemos drones (de criminosos) lançando bombas na comunidade”, disse um morador da Penha, falando sob condição de anonimato.

“Todo mundo está apavorado porque há muitos tiros”, acrescentou ela.

Operação Policial Brasileira

Uma mulher chora do lado de fora do Hospital Getulio Vargas brand depois que seu parente foi trazido pela polícia devido a ferimentos durante uma operação policial contra supostos traficantes de drogas na favela do Complexo do Alemão, onde atua a organização criminosa “Comando Vermelho”, no Rio de Janeiro, terça-feira, 28 de outubro de 2025.

Silvia Izquierdo/AP


As incursões nas favelas são comuns, mas esta foi a mais mortal até agora. Até agora, o maior número de mortos ocorreu numa operação em 2021 que deixou 28 mortos.

A operação de terça-feira paralisou o tráfego em muitas das principais ruas da cidade litorânea.

“Ficamos sem ônibus, sem nada, nesse caos e sem saber o que fazer”, disse Regina Pinheiro, aposentada de 70 anos, que tentava voltar para casa.

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