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Crítica do Agente Secreto: thriller de crime político de Kleber Mendonça Filhos é imperdível

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Aquário e Bacurau diretor Kleber Mendonça Filho O Agente Secreto tece um thriller de crime político complexo e saltitante, com foco na experiência de perseguição de um homem.

Situado principalmente no final dos anos 70, na cidade natal do escritor/diretor brasileiro, Recife, Pernambuco, mas movendo-se fluidamente entre o passado e o presente, o filme se passa predominantemente nos anos tumultuados da ditadura militar brasileira. É um tema pesado explorado com a humanidade, ostentando um roteiro tão convincente, uma atuação impecável e uma estética marcante dos anos 1970 que é impossível desviar o olhar.

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Na liderança, Narcos e Guerra civil estrela Wagner Moura dá uma atuação tremendamente interior como um homem justificadamente paranóico em sua missão de escapar do regime autoritário de seu país. Há uma razão pela qual Moura levou o prêmio de Melhor Ator em Cannes, e Mendonça Filho conquistou o prêmio de Melhor Diretor; O Agente Secreto vê ambos mergulhando de cabeça nas complexidades da corrupção desenfreada e procurando desesperadamente por uma saída.

O Agente Secreto alterna entre o passado e o presente para criar uma narrativa complexa.

Wagner Moura em “O Agente Secreto”.
Crédito: Victor Jucá

Ao longo de três atos soberbamente editados por Eduardo Serrano e Matheus Farias, o filme de Mendonça Filho percorre múltiplas linhas do tempo no passado e no presente. Em 1977, conhecemos Armando (Moura), conhecido como Marcelo, um homem recém-chegado a um conjunto residencial no Recife durante o período anual do Carnaval. Uma pequena caixa Kodak acomoda todos os seus pertences e ele revela pouco sobre si mesmo. Os apartamentos são administrados pela vigilante matriarca Dona Sebastiana (Tânia Maria), e Armando é recebido de braços abertos. Entre as omnipresentes celebrações do Carnaval, Armando é calorosamente apresentado pelo seu guardião septuagenário aos vizinhos. São também refugiados políticos, embora nem todos gostem de usar o termo. Há Thereza Vitória (Isabél Zuaa), que fugiu da Guerra Civil Angolana com o seu companheiro; há a mãe solteira Cláudia (Hermila Guedes), cujo passado além da profissão de dentista continua sendo um mistério para suportar. Muitos vivem sob ameaça de morte, como o nosso protagonista.

Enquanto isso, a corrupção corre abundantemente pelas ruas da cidade, assim como vans de polícia cheias de funcionários corruptos, vaiando, gritando e descaradamente fora da lei. O mais proeminente em O Agente Secreto é o delegado Euclides (Robério Diógenes) e seus filhos guarda-costas Arlindo (Ítalo Martins) e Sergio (Igor de Araújo), que entram na história ao serem retirados do Carnaval quando a perna decepada de um homem é encontrada em um tubarão morto — e esse não é de forma alguma o limite da violência que está por vir em O Agente Secreto.

Aos poucos, o filme revela a gravidade da situação de Armando: ele é um professor universitário viúvo, especializado em engenharia elétrica, que foge de perseguições em meio à ditadura militar do país. No seu passado, enfrentar a ganância corporativa e a burocracia governamental corrupta deixou-o vulnerável e roubou-lhe a sua amada esposa Fátima (Novos bandidos‘Alice Carvalho). Sair não é tarefa fácil, já que corrupção, vigilância e homens sinistros orbitam Armando a cada passo – incluindo dois assassinos irritantemente imperturbáveis, Bobbi (Ferrari(Gabriel Leone) e seu padrasto Augusto (Roney Villela), em seu encalço.

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Além de Dona Sebastiana, outros trabalham sob o radar para ajudar os perseguidos a fugir do país, como Elza (Vermelho MonetMaria Fernanda Cândido), que oferece uma forma de proteção a testemunhas, prometendo passaportes em poucos dias. Uma vaga no Instituto de Identificação da cidade é a melhor chance de Armando encontrar provas físicas da identidade de sua mãe antes de deixar o Brasil com seu filho pequeno, que mora com os avós.

No presente, dois jovens investigadores de São Paulo ouvem fitas cassete com conversas gravadas da época de Armando, e ficamos nos perguntando aonde exatamente sua pesquisa está levando. Aqui, e através do uso de fotografias de arquivo por Mendonça Filho, o filme se torna um artefato ficcional em si, uma história digna de estudo e exame. Mas são as atuações vividas pelos próprios atores que dão vida a esse período histórico instável, com Moura na frente.

Wagner Moura dá uma atuação tremenda em O Agente Secreto.

Com a tarefa de vários papéis ao longo dos períodos, Moura ganhou cada centímetro do prêmio de Melhor Ator em Cannes em O Agente Secreto. Afinal, o papel foi escrito especificamente por Mendonça Filho para ele. Um herói clássico corajoso o suficiente para desafiar entidades poderosas e corruptas, ao mesmo tempo que teme pela sua vida e pela sua família, Armando internaliza predominantemente o nível de ameaça séria que constantemente pesa sobre ele. A sutileza e a frustração de Moura imbuem nosso protagonista com uma coragem profundamente humana, que nos faz, como espectadores, querer protegê-lo a todo custo.

Incorporando um verdadeiro caso de conjunto, O Agente Secreto vê Moura cercado por performances ousadas e bizarras, desde o icônico ator alemão Udo Kier como o alfaiate expatriado Hans até Greta estrela Diógenes como o chefe de polícia corrupto da cidade. Notavelmente, Armando encontra refúgio com seu sogro, Sr. Alexandre (uma atuação maravilhosa de BacurauCarlos Francisco) dono do Cinema São Luiz local, que exibe filmes brasileiros ao lado de filmes de terror americanos como Maxilas e O presságio que causam histeria total no público. Aqui, e através da requintada cinematografia de Evgenia Alexandrova, você pode sentir a reverência de Mendonça Filho pelo cinema como cineasta, crítico e curador — e sua importância em tempos turbulentos. Na verdade, O Agente Secreto é uma combinação perfeita com o documentário de 2023 do diretor Imagens de Fantasmas (Retratos Fantasmas), que traça o cinema em sua cidade natal, Recife.

O Agente Secreto segue uma estética marcante dos anos 70.

Ítalo Martins, Robério Diógenes, Wagner Moura e Igor de Araújo em

Ítalo Martins, Robério Diógenes, Wagner Moura e Igor de Araújo em “O Agente Secreto”.
Crédito: Victor Jucá

Apesar da paranóia e da corrupção que permeiam a narrativa, o filme de Mendonça Filho é um caso impressionante dos anos 70. Filmado em Panavision anamórfico, é nada menos que um banquete para os olhos (antes não é). Cada cena vem repleta de laranjas, marrons e amarelos característicos da década, com o trabalho meticuloso do desenhista de produção Thales Junqueira em plena exibição. As icônicas cabines telefônicas amarelas em forma de ovo do arquiteto Chu Ming Silveira, conhecidas como Orelhões (ou “Orelhas Grandes”), constituem uma parte vital do enredo e da paisagem da cidade, enquanto a figurinista Rita Azevedo encontra autenticidade gloriosa em trajes específicos do período.

Apesar da convulsão política local, Mendonça Filho também captura com reverência e precisão o visual do Recife, com Armando captando lindas paisagens urbanas da sala de projeção do Cinema São Luiz, banhadas pela luz do sol, e as cenas de rua muitas vezes focando nos membros da comunidade apanhados no caos. Há também um pouco de realismo mágico adicionado em uma medida inesperada, e os compositores Mateus Alves e Tomaz Alves Souza juntam tudo com uma trilha sonora envolvente e atmosférica.

Em última análise, o filme de Mendonça Filho explora uma época de corrupção política, violência e paranóia justificada através de lentes humanas, com o diretor dizendo em comunicado à imprensa: “O desafio era fazer um filme sobre a lógica da época sem marcar todas as caixas do filme da ditadura”. Com a performance poderosa de Moura emoldurada por uma estética reverente e autêntica, O Agente Secreto é um olhar profundamente humanizado sobre um momento histórico de autoritarismo e corrupção governamental. É imperdível.

O Agente Secreto foi revisado de Festival de Cinema BFI de Londres e será lançado no Reino Unido e na Irlanda em 20 de fevereiro de 2026. O filme chega aos cinemas de Nova York em 26 de novembro e em Los Angeles em 5 de dezembro, com lançamento nacional em seguida.

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